Nuno Almeida: “É muito importante a criação de investimentos para que possam povoar Guetim”
- Notícias Guetim
- 28 de out. de 2024
- 18 min de leitura
Num ano particularmente agitado para a política guetinense, Nuno Almeida, Presidente da União de Freguesias de Anta e Guetim, esteve à conversa com o ‘Notícias de Guetim’, onde foram abordados diversos problemas da freguesia. Da Linha de Alta Velocidade às queixas sobre a rede viária, passando pela desagregação de freguesias, os resultados dos Censos 2021 e os futuros investimentos em Guetim, o autarca refere ainda a importância de se “voltar a estimular o sentimento de pertença à comunidade da população de Guetim”.

Comecemos esta entrevista com um tema quente. A linha de alta velocidade. Todos os traçados em estudo causarão um impacto direto em Guetim. O que está a fazer a Junta, em articulação com a Câmara Municipal, para mitigar este impacto?
Foi uma surpresa geral. A primeira vez que tivemos contacto com este processo foi quando se iniciou a discussão pública do projeto de impacto ambiental. No final de 2021, terá havido uma comunicação por parte da Infraestruturas de Portugal (IP) ao município de Espinho, apresentando a versão final do projeto, mas sem a oportunidade de se fazer qualquer tipo de intervenção. Nós não fomos informados nessa altura. Tivemos conhecimento este ano, do avançado estado desta intenção, porque até este momento não está aprovado qualquer traçado, apenas foi feito um pedido de avaliação da viabilidade ambiental. Só depois de aprovado algum traçado é que chegaremos à fase de execução do projeto e aí haverá a possibilidade de fazer correções à proposta avançada. Nós não temos recursos humanos para emitir um parecer técnico, mas fizemos a nossa parte para entender a informação que nos foi chegada. Estivemos nas duas sessões de esclarecimento promovidas pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que foram os únicos espaços de debate em que a Junta teve oportunidade de intervir. Facilmente percebemos que os impactos ambientais da passagem da Linha de Alta Velocidade (LAV) no nosso território seriam bastante negativos e, por isso, emitimos um parecer para a discussão pública. Estivemos depois reunidos com técnicos da IP e informaram-nos que há tendência para ser viabilizado um dos traçados e, nesse sentido, tentámos encontrar soluções para minimizar os impactos na freguesia. O melhor para nós seria levar o traçado 100m mais para a nascente, em Guetim. Em Anta, dificilmente seria possível encontrar uma solução melhor sem empurrar o problema para as freguesias vizinhas.
Alguns guetinenses referem que o poder local deveria ser mais interventivo no esclarecimento à população desta matéria. Concorda? Acha que a Junta e a Câmara Municipal fizeram o que estava ao seu alcance no sentido de esclarecer as pessoas?
Toda a gente, hoje em dia, com as redes sociais e com alguma imprensa mais sensacionalista, tende a desenvolver um espírito crítico para com a Junta que não têm para com a sua própria conduta na freguesia. A Junta de Freguesia esteve sempre disponível, à distância de um telefonema, para esclarecer a população. Reconhecemos que foi gerado algum pânico social devido a uma má comunicação, aliada a alguns interesses políticos. Na altura, não tínhamos condições para explicar aquilo que não conseguíamos porque não nos tinha sido apresentado nada. As comparações que surgiram foram com a freguesia de São Paio de Oleiros, que simulou uma espécie de conferência, mas que não explicou coisa nenhuma. Não foi algo técnico, mas sim político, em que tentaram influenciar a população a aceitar um traçado. Se a casa ia ser afetada ou não, se haveria indemnizações, que tipo de construções seriam feitas para proteger as casas, não foram questões lá esclarecidas pois não havia informação. Quem realmente estava interessado em saber e em dar o seu contributo esteve, tal como a Junta, nas sessões de esclarecimento em Ovar e no Porto. Acho, sinceramente, que fizemos tudo que estava ao nosso alcance, contribuindo para a discussão com o nosso parecer.
"É uma infraestrutura que atravessará um parque natural, por isso vai haver uma desconfiguração, principalmente na zona a nascente, perto do antigo moinho"
Em que medida ainda é possível preservar locais como a Pedra do Gato, o Parque da Picadela e o Campo de Guetim?
O Parque da Picadela ficará comprometido com qualquer uma das variantes. Há o compromisso de restabelecer o manto florestal, mas a linha passará lá. É uma infraestrutura que atravessará um parque natural, por isso vai haver uma desconfiguração, principalmente na zona a nascente, perto do antigo moinho. É possível deixar o parque e a Pedra do Gato separados. Quanto ao campo de futebol de Guetim, sinceramente, não estou preocupado porque pode-se construir um novo noutra localização. Preocupa-me mais a demolição das casas de pessoas que cá moram e que têm em Guetim todo o trabalho de uma vida. Posso dizer, neste momento, que há condições técnicas para garantir que, nas imediações do campo, as casas não sejam afetadas. Existem, no entanto, duas casas mais a sul que estão, à partida, condenadas. A Quinta da Gata também vai ser atravessada. Lá a LAV vai passar ao ar livre, em aterro, sendo construído um muro de proteção, que ainda vai proteger outra casa, mas, claro, fica o impacto negativo de viver numa zona tranquila, no meio da natureza, e de repente esta vai ser desconfigurada.

Considera que podemos tirar algo de positivo da quase certa passagem da linha de alta velocidade na nossa freguesia?
Uma obra desta envergadura tem sempre impactos e mudanças significativas na configuração e utilização do espaço. Analisando o projeto, percebo que haverá mais constrangimentos negativos do que positivos. Mas a verdade é que também já me apercebi que há quem esteja contente com a passagem da LAV. Quem vai ver a sua casa afetada é claro que terá um prejuízo. Acredito que há zonas onde não será positivo, mas noutras vai ser possível criar novas vias e ligações, que podem trazer algum tipo de benefício. Eu vou exigir duas contrapartidas. Uma delas será, por exemplo, a ligação rodoviária ao Peso, em Anta, resolvendo um problema antigo. Todas as vias de circulação que hoje existem e serão cortadas, deverão ter sempre uma alternativa para serem repostas as ligações. Quando se fala que o campo de futebol pode ser afetado, não é tanto com a construção do túnel, mas sim a via alternativa ao corte na Rua das Relvas.
"Politicamente, estamos disponíveis para avançar com qualquer tipo de luta e tentaremos sempre negociar melhores soluções"
Tendo em conta que haverá mais uma fase de discussão, ainda é possível fazer com que o traçado passe ainda mais nascente?
Isso não é possível garantir. Eu não gosto de gerar falsas expectativas. Sei que já há alguma mobilização para as pessoas se manifestarem e fazerem reivindicações. Mas não sei até que ponto essa mobilização será expressiva para conseguir uma mudança efetiva. Temos, no entanto, o caso do Aeroporto de Lisboa, em que quase esteve decidido que ia ser no Montijo e depois não se avançou com a obra. Pode existir uma manifestação pública de Anta e Guetim, mas tenho algumas dúvidas quanto à mobilização das pessoas, até porque vejo, mesmo em Guetim, muita gente contente com o projeto. Politicamente, estamos disponíveis para avançar com qualquer tipo de luta e tentaremos sempre negociar melhores soluções, como o prolongamento do túnel por mais 150 metros para não afetar nem o campo nem nenhuma das casas.
Mudemos um pouco o foco desta conversa. Foi o primeiro Presidente da Junta da União de Freguesias de Anta e Guetim. Acredita que será o único? Por outras palavras, acredita que a desagregação se irá consubstanciar já nas próximas Autárquicas?
Esse tema atravessa todo o meu mandato. Foi criada uma possibilidade na lei para que houvesse uma revisão da agregação de freguesias e nós como Junta de Freguesia e o Município já fizemos o nosso papel. O processo foi aceite e já entrou na Assembleia da República e, neste momento, aguardamos que se tome uma decisão por parte dos partidos.
Guetim e Anta responderam a todos os requisitos para se tornarem independentes?
A lei não é propriamente para a desagregação de freguesias, mas sim para a criação de freguesias. Tem, no entanto, duas cláusulas que criam um regime de exceção, por um ano, em que esta lei poderá ser usada para reverter o processo anterior de agregação. Com esta exceção, Anta e Guetim cumpriram todos os requisitos. Guetim, por si só, não cumpria dois dos critérios que hoje estão em vigor para a criação de novas freguesias, mas com este artigo de exceção houve espaço para avançar.
"A maior freguesia do município (Anta e Guetim) recebe o mesmo que Silvalde e Paramos. Veja-se que Paramos tem dois quilómetros quadrados. Nós temos oito…"
Quanto à distribuição de fundos municipais, a desagregação poderá trazer vantagens para Anta e para Guetim?
No caso da distribuição de fundos do município, houve uma deliberada opção do anterior executivo em não atribuir os mesmos fundos à união de freguesias do que aqueles que as duas freguesias conseguiriam ter separadas. Agora já é melhor, há uma maior sensibilidade.
Mas então ainda não estamos ao nível anterior a 2013?
Não. Com a inflação, acabamos por receber mais agora. O problema disto é que a maior freguesia do município (Anta e Guetim) recebe o mesmo que Silvalde e Paramos. Veja-se que Paramos tem dois quilómetros quadrados. Nós temos oito… Se recebemos o mesmo valor para tratar das ruas, por exemplo, claro que se nota a diferença. Eles têm cinco ruas para alcatroar, nós temos 50. O preço do alcatrão não é diferente para as duas. Eu com isto não quero que retirem dinheiro a nenhuma freguesia, mas a equidade não pode ser feita dessa forma. Se temos um território maior, temos mais população que as outras freguesias, temos as principais vias de acesso para os outros concelhos, temos o maior número de novos pedidos de ligação ao saneamento, claro que as nossas ruas estarão mais danificadas. A nossa grande luta tem sido essa. O insucesso desta união de freguesias vem muito desta questão política.

Reivindicações que Guetim tinha antes de 2013, como a instalação de uma farmácia no território, poderão ser concretizadas após 2025?
Essa é uma das questões que, quando perguntávamos aos farmacêuticos, diziam-nos que a freguesia já tinha farmácias no território, que não era uma falha. Tem de haver um farmacêutico que queira se instalar na freguesia, não depende da Junta. O nosso papel foi de entrar em contacto com alguns farmacêuticos, sendo que numa fase houve um interessado, mas acabou por não avançar. Mas efetivamente, essa questão penaliza Guetim, que se vê impossibilitada de reivindicar alguns equipamentos pela existência destes em Anta.
Temos conhecimento que existe um projeto que está a ser desenvolvido para o antigo edifício da escola EB1 de Guetim. Pode avançar um pouco sobre o que será feito e quais valências irá albergar a antiga escola?
Foi sempre um desígnio deste executivo a reabilitação do edifício da antiga escola, transformando-o na nova sede da Junta de Freguesia e num centro cívico e cultural. Houve a oportunidade, em parceria com a Câmara de Espinho, de candidatar este edifício a fundos comunitários, no âmbito do Plano de Ação para as Comunidades Desfavorecidas. A candidatura foi aprovada, mas ainda não saiu o financiamento, uma vez que o projeto ainda está a ser elaborado. A ideia é que o edifício seja reabilitado, sendo uma parte alocada à Junta de Freguesia e a outra a um espaço que possa ser utilizado para formações, convívios, atividades lúdicas diárias direcionadas aos idosos, com técnicos especializados, no entanto faz sentido, tendo em conta a existência do campo de jogos, que haja um encontro intergeracional e houvesse uma partilha de saberes entre os mais jovens e mais velhos.
E relativamente ao atual edifício da Junta de Freguesia?
Neste momento, não temos qualquer projeto para este edifício. Faz sentido a interligação com o edifício da escola, até porque existe a partilha direta de equipamentos de apoio ao campo de jogos. Este espaço pode ser reaproveitado para a comunidade, através de salas de reuniões e espaços de trabalho. Atualmente, o edifício é também usado por coletividades, como o Grupo Cultural, e tem ainda a biblioteca, que está fechada. Este tem, no entanto, muitas deficiências. A oportunidade de passarmos a sede da Junta para a antiga escola deixou em suspenso alguns investimentos, mas a verdade é que vamos ter de fazer algumas intervenções para não deixar o edifício cair.
"Não basta então criar um edifício novo, são necessários novos médicos, para que a população de Guetim possa ser atendida num centro de saúde mais próximo"
Recentemente, a Presidente da Câmara Municipal de Espinho referiu que iria ser construído um Centro de Saúde na União de Freguesias de Anta e Guetim. Em que medida este poderá beneficiar a população guetinense, que atualmente não possui cuidados de saúde de proximidade?
A população de Guetim é servida pelo Centro de Saúde de Espinho. Não é na freguesia, mas existem serviços médicos de assistência. A construção de um novo centro de saúde surgiu no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Um dos meus grandes debates na ARS Norte é que não faz sentido estar a construir um novo edifício se não é para ter mais médicos. Cada médico de família só pode ter um certo número de utentes. A unidade de saúde de Anta é uma das melhores da região, em grande parte por causa do corpo docente, mas os médicos já têm as suas quotas saturadas. Não basta então criar um edifício novo, são necessários novos médicos, para que a população de Guetim possa ser atendida num centro de saúde mais próximo, na União de Freguesias. O que está a ser estudado é construir num local próximo tanto de Anta como de Guetim, no entanto terá de ser num terreno público, pois o financiamento não cobre esse custo. Atualmente, a ideia é a construção junto à COGE, o que beneficiará a população de Guetim, Idanha e Ponte de Anta, que têm transportes públicos a passar junto a essa zona.
"É importante uma discussão pública sobre que Parque da Picadela queremos"
O Parque da Picadela possui características que o dotam de um potencial muito interessante. Sabemos que o espaço pertence à Câmara Municipal e não se vislumbra, pelo menos por agora, qualquer tipo de intervenção. De que forma é que a Junta poderá ser proativa e articular conjuntamente com a Câmara Municipal a limpeza e possível revigoração deste espaço?
O Parque da Picadela tem sido uma das nossas batalhas ao longo destes anos. Aquilo que hoje está no PDM sobre o aproveitamento das linhas de água, eu já falava disso desde 2013. Tanto que, na altura, nós, Junta de Freguesia, candidatámo-nos a fundos comunitários, mas a nossa candidatura acabou por não ser aprovada pois avaliam o nível de abrangência populacional e existem uniões de municípios e uma série de associações que ganham uma outra dimensão. Nós olhamos para a Picadela como uma oportunidade de nos potenciamos em termos turísticos. Não temos praia, mas podíamos trazer gente da praia até aqui pois o percurso é possível de ser feito. Foram apresentados vários projetos ao longo dos anos, mas o problema ideológico dos últimos dois mandatos inviabilizou qualquer solução, uma vez que não via recetividade a qualquer tipo de iniciativa por parte do município - o que culminou com os contratos de delegação de competências na limpeza dos parques e jardins, em que não nos foi atribuída qualquer verba para limpar esse espaço por ser da responsabilidade do município, mas até hoje fomos sempre nós a limpá-lo. Nós agora não temos cortado tantas vezes as ervas pois, com o Projeto Rios e os Amigos da Ribeira do Mocho, foram aparecendo vários especialistas em botânica e descobriram-se plantas únicas, que ainda não estão devidamente catalogadas, como um feto e umas orquídeas. Por isso, paramos com a limpeza mais abrupta que fazíamos e estamos a procurar marcar bolsas para proteção. Todos os projetos mais antigos, como a transformação do espaço num parque para merendas com grande intervenção humana e desconfiguração do local, entram também em conflito com esta nova sensibilidade, mudando o conceito para um parque mais natural. É importante uma discussão pública sobre que Parque da Picadela queremos.
Tendo em conta que a Ribeira do Mocho nasce no concelho de Vila Nova de Gaia, não existe também por parte desse município a intenção de valorizar as margens da ribeira?
Não temos qualquer tipo de informação. Aliás, muitas vezes a água aparece poluída e nos queixamos a Gaia, a resposta é apenas que estão a investigar. Não me parece que tenham qualquer tipo de intenção de fazer ali alguma coisa, até porque está planeada a construção de um grande parque de painéis fotovoltaicos naquela zona que faz fronteira com o parque.

É também promessa eleitoral do Partido Socialista concretizar a ligação entre Guetim e Nogueira da Regedoura, que tem sido bandeira de várias campanhas eleitorais ao longo de várias décadas. Qual é o ponto de situação? Têm sido levadas a cabo negociações entre ambas as freguesias?
Sim, a ligação entre Guetim e Nogueira da Regedoura é de facto uma prioridade para nós enquanto Executivo, porém não depende exclusivamente da nossa vontade. Já iniciamos inclusive esse processo, contactando um dos proprietários que demonstrou disponibilidade em ceder terreno para podermos iniciar o troço de ligação. É importante contudo focar que grande parte da hipotética futura via de ligação entre as duas freguesias situa-se em Nogueira da Regedoura, por isso tudo depende muito mais da proatividade desta Junta que propriamente de nós, Anta e Guetim. Já demos conta ao Executivo de Nogueira da Regedoura que temos acordos estabelecidos e que podemos iniciar as obras. Estamos à espera dessa mesma disponibilidade por parte de Nogueira. Creio que não fará muito sentido fazermos apenas a parte de Guetim se o restante troço de acesso (em Nogueira da Regedoura) não tiver condições para avançar.
Relativamente às vias de comunicação em Guetim, a Rua dos Combatentes merece uma intervenção urgente. Existe alguma planificação para o alcatroamento desta rua e de outras na freguesia? Se sim, quais?
A questão da reparação e requalificação dos arruamentos da freguesia é algo que carece de alguma reflexão, nomeadamente por parte da Câmara Municipal. É inegável que Anta e Guetim é a freguesia do concelho com mais arruamentos. Parece-nos por isso justo que a distribuição dos fundos camarários para aplicação na rede viária em Anta e Guetim sejam, também eles, superiores aos das restantes freguesias. Infelizmente tal não acontece, no entanto continuamos a trabalhar para tentarmos responder às necessidades mais urgentes dentro dos nossos limites orçamentais. Concordo que a Rua dos Combatentes está num nível de deterioração muito elevado e merece uma ação de fundo. O ideal seria retirar a camada de alcatrão que existe e colocar uma nova de pelo menos 7 centímetros dado que, como todos sabemos, é uma rua cujo trânsito se equipara ao de uma Estrada Nacional. Apesar de reconhecermos esta realidade, a verdade é que uma obra desta envergadura não está ao alcance da Junta, já que estamos a falar de valores elevadíssimos! Se nada for feito pelo município nesta matéria, seremos obrigados a intervir mas sempre com soluções temporárias e de curto prazo. Além da Rua dos Combatentes existem outras ruas identificadas. Hoje Guetim possui ainda duas ruas com paralelos, a Rua da Gruta da Lomba e a Rua do Espinheiro sendo nossa intenção colocar pavimento nesta última. Outras vias que temos identificadas como prioritárias são a Rua dos Lagos e a Rua da Igreja Velha. Devemos ser realistas e admitir que, tirando a Rua dos Combatentes, não existe uma catástrofe nas vias de comunicação em Guetim. A freguesia na generalidade possui boas estradas, salvo as exceções que já mencionei.
"É necessário a criação de um plano de incentivos fiscais e simplificação de alguns processos de licenciamento, tudo isto integrado num plano de habitação municipal sólido"
Todos sabemos que o concelho de Espinho possui um preço médio por metro quadrado absolutamente proibitivo para os mais jovens. Guetim não é exceção, com o preço da habitação a níveis recorde. Faz sentido criar uma política de habitação a custos controlados no concelho? Existe essa intenção por parte da Câmara Municipal? Como poderá a junta contribuir?
A verdade é que a Junta a não tem competências diretas nesta matéria poderá, no entanto, lançar uma série de contributos junto do Município de Espinho para a estratégia habitacional do concelho. O problema da habitação não é apenas de Anta e Guetim mas sim de todo o concelho de Espinho. Infelizmente, durante o mandato do Executivo PSD a habitação nunca foi uma prioridade. Não existiram políticas neste sentido e, por isso, hoje temos de “correr contra o tempo”. Acreditamos que podemos ser parceiros do município na criação, por exemplo, de um Plano Municipal de Habitação a custos controlados. Segundo sei existe a intenção de colocar alguns edifícios municipais no mercado de arrendamento jovem. No que toca a Guetim, este território tem uma simbiose quase única no concelho entre o rural e o urbano e o seu posicionamento geográfico confere-lhe muito potencial na minha opinião. Não sendo favorável à criação de torres de construção ou de mais bairros sociais, acredito que existem condições para a possibilidade de construir até segundo ou terceiro piso em zonas específicas onde existe esse impedimento.
O problema da habitação tem deixado as suas marcas na freguesia, que, segundo os últimos Censos, perdeu população e viu esta a ficar mais envelhecida. O que pode ser feito por parte da autarquia para travar a desertificação de Guetim?
Os resultados dos Censos devem, de facto, criar alguma reflexão. O que falta em Guetim neste momento são pessoas, esta é uma realidade que não podemos mascarar. Os jovens têm muita dificuldade em permanecer cá e são praticamente obrigados a sair para os concelhos limítrofes. É por isso muito importante a criação de investimentos para que os locais e forasteiros possam povoar Guetim. A Câmara Municipal, dentro do seu âmbito de ação, poderá criar os meios para os particulares poderem investir. Não é competência do Município construir habitação, isso todos sabemos, contudo, poderá criar condições e incentivos à construção. Diminuição de impostos e taxas assim como agilização de alguns processos de construção são alguns exemplos do que poderá ser feito. Quando os promotores imobiliários entenderem o potencial que freguesias como Anta e Guetim possuem não tenho dúvidas que irão construir cá, mas para isso é necessário a criação de um plano de incentivos fiscais e simplificação de alguns processos de licenciamento, tudo isto integrado num plano de habitação municipal sólido.
O desporto é outra âncora para a fixação dos mais jovens. Neste momento, Guetim não possui um pavilhão desportivo. Seria uma mais-valia para Guetim?
Eu acredito que a criação de um pavilhão em Guetim seria uma mais-valia para a freguesia desde que fosse pensado à luz de uma estratégia global. Neste momento Guetim não tem clubes que pratiquem modalidades indoor, por isso esta possibilidade, caso surja, deverá ser alicerçada na possibilidade de utilização do espaço por parte das escolas da freguesia mas também por clubes do concelho e, eventualmente, até fora dele. É possível criar-se uma dinâmica desportiva interessante com o movimento de circulação de pessoas na freguesia. Não podemos esquecer que freguesias como Silvalde, Paramos e Espinho não têm pavilhões municipais funcionais, por isso, um pavilhão em Guetim, desde que integrado numa lógica municipal e territorial, poderia tornar-se um polo muito interessante.
Já que falamos em desporto… não podemos ignorar a situação dos balneários do Campo de Guetim. Quando teremos esta infraestrutura tão importante criada?
Antes de abordar a questão específica dos balneários convém fazer uma retrospectiva do Campo de Guetim de 2013 até agora. A evolução do complexo desportivo é notória e inegável. Se olharmos o que encontramos em 2013, quando assumimos a Junta e compararmos com o que temos agora só podemos sentir-nos satisfeitos por todas as conquistas. Resolveu-se a questão da gestão do campo que passou para a Junta, logo depois colocou-se o relvado sintético, após o relvado colocou-se a iluminação. No fundo não há como negar as evidências de que foram efetuados melhoramentos muito relevantes nesta infraestrutura. Agora temos pela frente um novo desafio, e estou certo que encontraremos uma solução já que temos a noção que os clubes necessitam de condições mínimas para poderem competir. A solução dos contentores nunca me pareceu a mais adequada porque estes não possuem condições mínimas para cumprirem a sua função e para serem feitas obras de adaptação era necessário um investimento muito elevado. Existe a intenção por parte da Câmara Municipal na construção de uma infraestrutura digna, porém neste momento estamos todos um pouco expectantes quanto aos desenvolvimentos do traçado da linha de alta velocidade. Não obstante, alguma solução terá de ser encontrada. Os clubes precisam de condições dignas, por isso esta é uma exigência clara que tenho feito ao Executivo Municipal. Espero que no início da próxima temporada possamos contar com a infraestrutura.
"Não devemos cair na tentação de culpar só a Junta pelo que não se faz e não assumirmos as rédeas da ação"
Recentemente, os guetinenses têm manifestado falta de eventos como o ‘Guetim em Festa’, as tasquinhas da freguesia, que se realizaram até 2020. Por que razão o evento não regressou? Podemos esperar por um regresso num futuro próximo?
No ano passado existia a possibilidade dos eventos voltarem a ser limitados devido a um novo surto decorrente da pandemia. Felizmente, tal não se verificou, mas quando obtivemos essa garantia já não havia tempo para organizar o evento. Este ano tivemos uma reunião com todas as coletividades e estas não demonstraram interesse em participar no “Guetim em Festa”. Consideramos que as coletividades são essenciais para promover a dinâmica do evento. Entendemos que não devemos estar a investir para serem os particulares a beneficiarem das receitas que sejam potencialmente geradas com as tasquinhas. Não obstante, consideramos que o que define a tradição enraizada no povo de Guetim são as festas em honra dos padroeiros Santo Estevão e Nossa Senhora da Guia. Neste sentido, para colmatar a impossibilidade de realizar o “Guetim em Festa” este ano, a Junta deu um apoio extraordinário à Comissão de Festas. Importa ressalvar que no ano passado nenhuma das festas populares de Anta e Guetim ficaram por realizar. Naturalmente, se existir vontade das coletividades, o “Guetim em Festa” regressará em 2024, esperemos para ver!
Como avalia o movimento associativo guetinense?
O movimento associativo antes da pandemia em Guetim já era deficitário. Com o fim da escola Dó-Ré-Mi perdemos uma associação cultural muito relevante para a freguesia, o que acabou por empobrecer ainda mais a malha associativa guetinense. Felizmente o Grupo Cultural de Guetim reativou a sua atividade, podendo ser um polo de desenvolvimento cultural muito relevante. Acredito que as associações são determinantes porque possibilitam que a comunidade tome a iniciativa de promover atividades. Na verdade, não cabe só à Junta desenvolver iniciativas mas também, e acima de tudo, à sociedade civil. Tirando as associações culturais, Guetim continua com os seus clubes desportivos (Associação Desportiva Guetim Futebol Clube, Grupo Desportivo de Guetim e a Sociedade Columbófila de Guetim) mantendo a sua atividade circunscrita, naturalmente, ao desporto. Depois temos as Associações de Pais que estão circunscritas à atividade escolar. Perguntam-me o que mais pode ser feito…para ser honesto creio que devemos todos fazer uma reflexão. Devemos voltar a estimular o sentimento de pertença à comunidade das pessoas que vivem em Guetim. Gostar da terra é cuidar da terra, não devemos cair na tentação de culpar só a Junta pelo que não se faz e não assumirmos as rédeas da ação. O que posso fazer pela minha comunidade? Onde posso participar? Onde posso acrescentar valor? Todos temos algo a oferecer e todos deveríamos ser mais participativos na nossa comunidade.
"A criação de um polo central em Guetim poderá alavancar todo este projeto de recuperação de raízes e de um certo bairrismo, daquilo que é «ser Guetinense»"
Em jeito de balanço destes dois últimos anos do mandato, como avalia a execução do plano estratégico do executivo em Guetim? Têm conseguido implementar o que pretendiam? O que falta fazer até 2025?
Temos um território em constante mudança. As necessidades que tínhamos há uns anos muito provavelmente não são as mesmas que temos hoje. Creio que olhando para trás, desde 2013, podemos orgulhar-nos do que fizemos quer em Guetim quer em Anta. Ficaram certamente coisas por fazer, porém creio que hoje temos de focar a nossa prioridade na potencialização de novas formas de habitar na freguesia. Falava há pouco do movimento associativo, da necessidade das pessoas recuperarem o sentimento de pertença à comunidade. A criação de um pólo central em Guetim poderá alavancar todo este projeto de recuperação de raízes e de um certo bairrismo, daquilo que é “ser Guetinense”. Temos a intenção de fazer com que a antiga escola primária e os terrenos que a junta adquiriu nas suas imediações possam tornar-se numa estrutura comunitária com um Centro de Dia, com atividades também para os mais jovens de modo a criarmos um diálogo de gerações que certamente enriquecerá todos. Queremos fazer um espaço ao ar livre onde as pessoas possam conviver e viver a freguesia de uma forma diferente. No fundo, devolver o espaço público à comunidade. Paralelamente temos outros projetos em mente como, por exemplo, o alargamento do cemitério e outras obras aqui já mencionadas como os balneários ou a requalificação de algumas vias. No fundo falta fazer tudo aquilo que ainda não foi feito!
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