Guetim cada vez mais invisível nas reuniões de Câmara e Assembleias Municipais
- André Vieira Almeida
- 28 de fev.
- 7 min de leitura
O NG esteve a contabilizar as referências a Guetim nas reuniões da Câmara Municipal, nas Assembleias Municipais e nas redes sociais do município na última década e as conclusões mostram que atenção dedicada ao território guetinense é bastante baixa em toda a linha.

Se é certo que os orçamentos das Juntas de Freguesia estão muitas vezes condicionados às despesas correntes, é para a Câmara Municipal que as atenções se concentram quando são necessários investimentos mais elevados na freguesia. No concelho de Espinho a realidade não é diferente, sendo que, pela sua pequena dimensão, seria de esperar alguma facilidade em investir em todo o território. Contudo, Guetim tem ao longo dos anos lutado contra uma constante desatenção do município para com a população guetinense.
O ‘Notícias de Guetim’ completou três décadas no passado mês de novembro e as queixas da população para com a Câmara Municipal têm sido constantes. Em maio de 1996 dávamos nota de duas assembleias municipais realizadas em Guetim em que nada se falava sobre os problemas do nosso território. Nesse mesmo ano, era destaque na capa da edição de setembro as críticas feitas pela Junta de Freguesia de Guetim ao executivo municipal, acusando este de “apatia” em relação às necessidades da freguesia, ao que se juntam também as críticas da oposição à Câmara pelo “abandono” a que submetia Guetim.
Os anos passaram, mas as críticas mantêm-se. Hoje, inclusive, pouco ou nada se fala de projetos para o futuro de Guetim a nível municipal. Em mais de dez anos a defesa da população guetinense limitou-se a abordar a desagregação de freguesias e da passagem da linha de alta velocidade – temas em que se defende a correção de erros e não a concretização de obra nova e estruturante para o desenvolvimento do território.
Os únicos projetos direcionados a Guetim foram a requalificação do Jardim de Infância de Guetim, o início da recolha do lixo porta a porta e a implementação do IMI reduzido.
O NG realizou um estudo sobre a visibilidade de Guetim no município de Espinho e as conclusões mostram um abandono da freguesia constante. No que diz respeito às reuniões da Câmara Municipal, de 2014 a 2023, “Guetim” constou nas suas deliberações uma média de 5 vezes por ano (52 no total), sendo que em 2024 isso aconteceu por 4 vezes. No entanto, a esmagadora maioria das ocasiões em que o nome da freguesia é mencionado é para autorizar o corte do trânsito durante a festa, procissões de velas e o Carnaval, ou então para atribuir subsídios para a Comissão de Festas de Guetim. Os únicos projetos direcionados a Guetim foram a requalificação do Jardim de Infância para a sua transformação em Centro Escolar, que foi tema recorrente entre 2018 e 2021, nas várias fases da empreitada, o início da recolha do lixo porta a porta, em 2020, e a implementação do IMI reduzido, em 2022. Para além destas referências, apenas encontramos algumas menções à Junta de Freguesia para receber transferências de fundos ou sobre informações prestadas por esta.
Este vazio de projetos para Guetim contrasta com um grande número de obras na cidade de Espinho, a requalificação de diversas ruas, da antiga Alameda 8, o jardim da Villa Manuela, entre outras. Além disso, nos últimos anos avançaram as empreitadas do Estádio Municipal, em Silvalde, assim como o Centro Empresarial de Espinho, em Paramos.
O NG entrou em contacto com a Câmara Municipal para, entre outros assuntos, abordar este problema, mas não obteve qualquer resposta.
A ausência de projetos novos, da famosa “obra” em Guetim, é transversal também à assembleia municipal. Neste órgão, a presença guetinense tem vindo diminuir ao longo dos últimos 10 anos. Em 2014, após a extinção da freguesia, este era o tema em voga, com uma moção da CDU a condenar a agregação de Anta e Guetim. Os dois maiores partidos representados na assembleia possuíam deputados guetinenses. Alfredo Rocha, eleito pela lista do Partido Socialista, era um dos membros mais interventivos, tomando da palavra diversas vezes para falar sobre problemas nas ruas da freguesia, no saneamento, mas também para apresentar moções para a independência de Guetim. Sobre o tema, foi também frequente a presença da deputada social-democrata Susana Valente, que ainda apresentou duas moções com esse objetivo. Há ainda que destacar as várias críticas da Junta de Freguesia, por parte de Nuno Almeida e Manuel Santos, ao longo do mandato sobre a ausência de investimentos previstos para a freguesia.
A partir de 2017, as referências a Guetim nas assembleias municipais começaram a diminuir. As obras na escola, as críticas da Junta de Freguesia aos orçamentos e as três moções apresentadas pela CDU para a reposição da freguesia foram os principais temas em discussão sobre o território. Em 2020, já só por três vezes se ouviu falar dos problemas guetinenses.
Desagregação de Freguesias e passagem da Linha de Alta Velocidade são os temas que levam Guetim até à Assembleia Municipal atualmente
Já no mais recente mandato, iniciado em 2021, o nome da freguesia começou a aparecer mais vezes, nomeadamente pela voz do deputado social-democrata Abel Santos, o único guetinense eleito para a assembleia municipal. A desagregação de freguesias, a linha de alta velocidade e os problemas na Rua dos Combatentes foram os temas mais discutidos. No entanto, as menções a Guetim continuam bastante reduzidas face à realidade em 2014, em que eram praticamente o dobro.
O NG analisou ainda as publicações do Município de Espinho nas redes sociais, nomeadamente no Instagram, de modo a perceber como é que Guetim é representado no meio digital. A par da falta de projetos para o território guetinense, está também uma grande invisibilidade na forma de comunicar o concelho por parte da Câmara Municipal, mesmo considerando que este é um dos mais pequenos do país em termos de área.
O Instagram é uma rede que apenas mais recentemente tem sido utilizada de forma regular por parte do município. As primeiras publicações da conta remontam a 2017. Até 2021 não houve qualquer conteúdo dedicado a Guetim. A política seguida pela Câmara Municipal nesta rede social estava mais virada para a promoção turística, onde era comum encontrar posts sobre a cidade de Espinho, o bairro da Marinha, Silvalde e Paramos. A União de Freguesias foi mencionada apenas por duas vezes neste intervalo de tempo, apesar de ser a maior e mais populosa freguesia do concelho. Estas menções foram referentes à Academia de Música de Espinho e à construção da rotunda da Ponte d’Anta - ambas em Anta.
Nos últimos quatro anos esta rede social ganhou mais expressão, no entanto a representação de Guetim continua bastante aquém do peso que a freguesia tem dentro do concelho. Em 2021, ano em que o Instagram contou com 93 publicações do município de Espinho, 9 delas possuem um âmbito geral, 63 dizem respeito à cidade, 17 a Silvalde (das quais 11 são relativas ao bairro piscatório) e 4 a Paramos. A União de Freguesias vê-se apenas representada em 2022, com dois posts sobre a zona urbana de Anta. Por sua vez, Espinho contou com 89 conteúdos, Silvalde 10 (7 do bairro da Marinha) e Paramos com os mesmos dois.
A primeira referência a Guetim chega em 2023, ano em que existe um universo de cerca de 852 publicações – um grande aumento face ao ano anterior. A esmagadora maioria dos posts são, sem surpresa, relativos a eventos em Espinho (588). Seguem-se os temas de âmbito geral, com 195 publicações, Silvalde com 40, a União de Freguesias com 16 e Paramos com 13. Contudo, das 16 publicações dedicadas a Anta e Guetim, 11 são sobre o território antense a poente da A29. Guetim teve dois posts, o mesmo que a Idanha, e Esmojães contou com apenas um.
Em 2024 voltou a existir um grande aumento da atividade da conta do Instagram do município. Espinho mantém-se como a freguesia com a esmagadora maioria do conteúdo que a Câmara Municipal dedica nas redes sociais, mais de 67%, o equivalente a cerca de 720 posts. No que diz respeito às outras freguesias, é Silvalde que se segue com 65 publicações. A União de Freguesias junta 45 publicações e Paramos 19, revelando, mais uma vez, a falta de representatividade do território da maior freguesia do concelho. Entre as 45 publicações dedicadas a esta, 24 têm lugar em Anta, 12 em Esmojães, 7 em Guetim e 2 na Idanha.
A grande presença da freguesia de Espinho na divulgação do município justifica-se pela quantidade de eventos culturais organizados pela Câmara Municipal no centro da cidade. Esta fraca distribuição do investimento faz com que as Juntas de Freguesia de Anta e Guetim, Paramos e Silvalde tenham de recorrer aos seus fundos para fazer a dinamização cultural das freguesias, por exemplo, pagando iluminações de Natal, organizando eventos no verão, investindo em mobiliário urbano – gastos que a Junta de Espinho não precisa de ter pelo facto de o município o assegurar.
PDM com pouca execução a nascente
Estes números revelam uma grande invisibilidade de Guetim dentro do município, mas também de toda a zona a nascente da A29 em geral, composta por Esmojães, Idanha e o território guetinense. Quando se promove o concelho de Espinho, é rara, ou até inexistente, a promoção da nossa freguesia, ao contrário do que acontece em Silvalde ou Paramos. Veja-se que no Plano Diretor Municipal (PDM) em vigor desde 2016 constam algumas políticas de planeamento para a área nascente do concelho, que até ao dia de hoje pouco foram postas em prática.
Podem ler-se no documento os objetivos da “Criação do parque da Gruta da Lomba e da Picadela”, da “Minimização do efeito de seccionamento das A29 e A41 através da garantia da continuidade dos percursos pedonais e cicláveis ao longo dos principais cursos de água”, do “Reforço das centralidades de Guetim e dos Altos Céus”, “Reforço dos equipamentos de carácter local”, da “Promoção de áreas terciária no nó na A41” ou de “Melhorar a capacidade de carga e funcional das vias definidas como estruturantes deste território”. 8 anos passaram e a Câmara Municipal não apresentou qualquer avanço nestes pontos, grande parte deles nos programas políticos também.

Tratando-se de uma área considerável do concelho, a União de Freguesias encontra-se também muito sub-representada no que diz respeito ao património cultural catalogado pelo município, contando apenas com 21 construções referenciadas. Em Espinho esse valor é de 163, em Paramos 18 e em Silvalde 14. Os locais classificados em Guetim são apenas a Igreja Paroquial, o Cruzeiro do Largo de Santo Estêvão, a Escola da Aldeia Nova, o Moinho da Picadela e o Moinho do Praule. Além destes, é também apresentada como potencial zona arqueológica de interesse municipal a área da Antiga Igreja de S. Salvador de Guetim (Igreja Velha). Contudo, é de notar a ausência de locais bastante acarinhados pelos guetinenses e com potencial turístico como a Pedra do Gato, o Marco da Picadela, a Gruta da Lomba e o Parque da Picadela, que está agora em risco de ser desconfigurado com a passagem da Linha de Alta Velocidade.
A falta de atenção dedicada a Guetim por parte da Câmara Municipal é por isso um problema com o qual a freguesia se depara há muito tempo, sendo transversal a todas as cores políticas e a vários executivos municipais que têm deixado a população guetinense órfã de município que invista no seu território.
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