Manuel Santos: “Estou convencido que Guetim terá boas condições para quem vier fazer um bom trabalho”
- André Vieira Almeida
- 8 de mar.
- 5 min de leitura
Foi o rosto guetinense no executivo da Junta de Freguesia ao longo dos últimos 12 anos. Manuel Santos, vice-presidente da União de Freguesias, e uma das vozes mais audíveis na última década sobre a sua desagregação, esteve à conversa com o NG, onde falou sobre o processo de separação de Anta e Guetim, bem como as perspetivas de futuro da freguesia após o final do último mandato.

Desde a junção das freguesias, assumiu as funções de vice-presidente da Junta e tem sido a cara guetinense do executivo. Como avalia estes quase 12 anos de União de Freguesias?
É uma avaliação positiva, mas com algumas deceções. O processo de agregação foi muito repentino, daí ser complicado juntar tudo, a nível de terrenos, bens e orçamentos. No primeiro mandato tivemos também uma Câmara que nos dificultou a vida em todos os sentidos. Com a união recebemos menos dinheiro do que com as duas freguesias separadas. Foi bastante difícil, até mesmo no início das relações do executivo, mas depois conseguimos nos entender. O segundo mandato já correu melhor, independentemente de alguns problemas com a Câmara, que sempre teve pouca colaboração connosco. Ficou também marcado pela Covid-19, que foi complicadíssima e na altura fizemos coisas que hoje em dia seriam impensáveis, como desinfetar todas as zonas mais frequentadas da freguesia, devido ao pânico. No terceiro mandato, que pensei que seria o melhor e que estava a correr bem no primeiro ano com o Miguel Reis, que ouvia as freguesias, aconteceu a Operação Vórtex e acabou por ser mais do mesmo. Mais um mandato que acaba aquém das expectativas.
"Aqui dizem que só se fazem coisas em Anta, mas lá dizem que só fazemos em Guetim" - Manuel Santos
A população de Guetim sempre foi mais audível sobre a sua insatisfação com a União. Porque acha que isso aconteceu?
É normal. A freguesia de Anta é maior que Guetim e a sensação que ficou foi que Anta tomou conta de Guetim. A geração mais nova se calhar não está ligada, mas a mais velha tem uma grande ligação às raízes da sua freguesia, às suas gentes. Em Anta isso passou um pouco ao lado. Eu considero que a freguesia de Anta se divide em 3: a parte rural, igual a Guetim, que seria os Altos Céus, a parte central de Anta que é um meio termo e depois a parte mais urbana, ligada à cidade. Para a malta da cidade é indiferente, mas a parte mais rural terá sentido mais.
Como foi lidar com as queixas da população sobre a União de Freguesias?
A população de Guetim lutou bastante para que a agregação não tivesse acontecido. Em Anta isso passou mais ao lado. Com o Alfredo Rocha fizemos tudo para que isto não acontecesse, mas assim aconteceu. Foi como se tivéssemos perdido um filho. Foi como me senti. Em relação às queixas, é evidente que é complicado gerir os sentimentos das pessoas, até porque aqui dizem que só se fazem coisas em Anta, mas lá dizem que só fazemos em Guetim.
"Mantivemos a sede a funcionar, fizemos os mesmos eventos de Anta em Guetim, como o dia da freguesia ou as tasquinhas" - Manuel Santos
Sente que foi encontrado um equilíbrio entre as revindicações de Anta e as de Guetim?
Penso que sim, mas nem sempre conseguimos transmitir isso às pessoas. Sempre mantivemos o que existia em Guetim [antes da agregação] e o que se fazia em Anta também fizemos em Guetim. Mantivemos a sede a funcionar, fizemos os mesmos eventos de Anta em Guetim, como o dia da freguesia ou as tasquinhas. É natural que a dimensão é diferente, até porque temos apenas 3 ou 4 coletividades enquanto Anta tem 20 a 30. Tentámos manter esse equilíbrio, mas apesar de explicar isso as pessoas acabam por não acreditar. Dizem sempre que fazemos só no outro lado. Ao menos fazemos em algum lado. (risos)
E em relação ao processo de desagregação, que passos foram dados desde 2013?
É um processo longo. Logo no 1.º mandato alguns partidos defendiam a reversão, porque a lei tinha sido feita a régua e esquadro, sem ouvir a população, mas nessa altura percebeu-se que seria impossível. No 2.º mandato o PCP e o PS começaram a trabalhar nisso, mas as coisas andaram para a frente e para trás, até que chegou a uma altura e disseram que estava em cima das eleições e o Presidente da República disse que não era o momento certo para a desagregação. Temos andado nisto. Quando se chega à hora das decisões o processo empanca. Esperemos que agora não aconteça isso.
"O processo no nosso caso é fácil, mas acredito que em algumas uniões de freguesia será difícil fazer a separação dos bens e funcionários" - Manuel Santos
Acha que pode haver algum entrave à desagregação até às autárquicas?
Esperemos que não. O processo no nosso caso é fácil, mas acredito que em algumas uniões de freguesia será difícil fazer a separação dos bens e funcionários. Como nós mantivemos sempre tudo separado, até os cadernos eleitorais, penso que o nosso caso será simples. A parte política nacional também não deve criar mais entraves.
Quais são os próximos passos?
Aprovada no parlamento, temos depois de criar uma comissão que fará o inventário do património das duas freguesias e vai dividi-lo consoante os eleitores e dimensão territorial. Depois temos de criar duas comissões instaladoras, uma em Anta e outra em Guetim, até ao dia 1 de julho, e vão ter de preparar as eleições.
Em relação à futura Junta de Freguesia de Guetim, quais são as suas expectativas? Será vantajoso?
Haverá sempre muito trabalho pela frente. Vou ser sincero, no aspeto financeiro Guetim teria benefícios em estar com Anta, mas a população quer a separação e é nisso que temos de trabalhar. A freguesia vai ter dificuldades, por isso precisamos do apoio da Câmara para fazer alguns projetos. Mas neste momento, qualquer Junta precisa do município para fazer alguma coisa. Estou convencido que Guetim terá boas condições para quem vier fazer um bom trabalho. Considero que é a melhor freguesia do concelho ao nível da qualidade de vida, é sossegada, tem infraestruturas, tem um excelente bairro, campo de futebol, o melhor restaurante do concelho, a segunda maior empresa depois do casino…. Faltam algumas coisas? Faltam. Mas penso que Guetim não precisa de obras megalómanas, mas de trabalhar para a população.
"Temos dificuldade em arranjar pessoas para participarem. A malta jovem está desligada da freguesia" - Manuel Santos
Desde a extinção da freguesia de Guetim, muitas pessoas afastaram-se da política. Acredita que agora o interesse das pessoas pela política poderá voltar?
Espero que sim. O afastamento das pessoas não é só na política, é também nas coletividades. Temos dificuldade em arranjar pessoas para participarem. A malta jovem está desligada da freguesia. Ao nível da política, o que me fez estar aqui nestes 3 mandatos foi o facto de ninguém se ter chegado à frente e eu achar importante haver alguém de Guetim no executivo para trabalhar para a separação. Acredito que se vá criar outra dinâmica. É evidente que nas listas havia menos pessoas de Guetim. Creio que algumas pessoas mais adormecidas vão acordar. Será interessante ver as listas e candidatos. Do ponto de vista pessoal, gostava que houvesse uma lista única, que os partidos se juntassem no primeiro mandato. É quase impossível, mas seria bom para a freguesia junto do município. Ia ter outra influência na negociação do orçamento.
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